terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Dos lados de um rio.

Do que pude
e hoje já não posso,
passear meus dedos em tua
[nuca]
é ainda a saudade que mais gosto.
Quando além da conta
eu fui tudo para aquilo
que era nosso

são só dedos e cabelos, agora.

A tua imensidão
e tua perplexidade
eram só desejo e água parada
dos rios e noites que foram
[claras]
sob a cruel vertigem
de sofrer por adorá-la

que agora são só mãos, cabeças
e mais nada.

Deixo para o tempo como herança
o frio do espaço
que hoje me dedico
a precipitar no precipício

o arroxo dos nossos laços.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Work

Trabalho poético:
imprimir na sua testa
todo amor
que a mim basta.
Encontrar no espelho
o mesmo erotismo
[barato]

de quem espera pela última vez.

Um ofício fácil
"Eis aqui um carimba(dor)
por excelência".
Distribuo panfletos
e coloco meu anúncio
no jornal

era tão simples se não fosse você.

Agora penso:
isso já não é mais pra mim
vou vender minhas coisinhas
e virar jardineiro
na lua.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Estrutura da saudade.

Dedico-te sempre as coisas mais lindas
e, ainda que venhas tão somente em sonho,
solemente, ergo os braços, me proponho
a esperar com tanta alegria a tua vinda.

Pois é na noite que me basta o dia cinza
e anoitece o céu sempre tão risonho.
Onírico espaço - é aí que me imponho;
aprendi que é no escuro que a lua brinca.

O universo conspira e o infinito brinda
toda a esperança louca e pura advinda:
a lembrança é o lugar onde me encontro.

Fui todo teu e hoje muito mais ainda
por que sou todo verso, prosa e rima
pra ofertar amor - todo ar que disponho.

 




segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Paisagem.

E você pode esperar na porta
com seu café
e seu corpo claro

que eu já não posso dizer
como tudo vai ser

Se agora viro essas esquinas
observando o pouco
de tantas pessoas

hoje eu já não quero saber
como tudo vai ser

Amarro uma fita no pulso
enquanto você figura
no infinito púrpuro
[do pensamento]

seremos um qualquer dia desses
quando der pra ser.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Passagem

A criança corre pela praça.

Dou a volta
faço curva

penso carro, passo vento

e tudo é retorno,
pensamento.

A criança corre pela praça.

Tudo gira
e vou junto

se já não há, ainda invento

a vida assim:
contentamento.

Rufem os tambores
do que já se viu

hoje a criança corre pelo tempo.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Ela, a cidade e o céu.

Um dia Deus lhe disse: toma!
e enfiou na sua cabeça
um desajeitado diadema de estrelas.

E ela foi comprar pão se equilibrando sob sua nova auréola infinita
como um bêbado saindo do bar. 

Ninguém percebia o peso.
Ninguém reparou que ela cambaleava pra lá e pra cá.
Todos só queriam ver 
a via láctea sob seus cabelos dourados.

O padre santificou-a.
A puta odiou-a.
E os meninos corriam de um lado pro outro atrás de pipa mesmo.

Agora a companhia de luz prometeu apagar os postes
- decretou como clara a inutilidade da lâmpada.

E a gente a vê, vez ou outra, acendendo um sorriso por aí.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Exército.

Ergue o braço:
-sou tua!

Um batalhão inteiro se põe em marcha.

Não sei o que faço
e acabo na rua.

Não te amo como digo e não me odeie como mostra.